1º ato. A provocação. O partido de direita chama a atenção. Diz uma lapalissada malcriada sobre um país e um povo e consegue. “Isto não é o Bangladesh”, nem a Suécia, o Burkina Faso, ou o Raio-que-o-Parta. As notícias repetem-se sempre em tom de inflamação. O partido de direita queria chamar a atenção e consegue. Picaram o isco. Está terminado o primeiro ato.
2º ato. O clamor. Os outros partidos, os jornalistas e os opinion makers, que detestam o partido de direita, rasgam as vestes e clamam, exagerando, que o partido é racista, fascista, nazi! Nada disso está naquele cartaz. Está lá apenas uma lapalissada mal criada. Contudo, apesar do mau gosto Portugal, de facto, não é o Bangladesh. Mais notícias, análises, reações. O clamor é o segundo ato.
3º ato. O contra-golpe. O líder do partido de direita desfaz-se em tweets, reações e entrevistas em que reafirma o que diz o cartaz, mas ao mesmo tempo recua dizendo que “claro que os imigrantes do Bangladesh que são de bem podem estar, mas que os que são maus é que não”. Dobra a parada, duplica a lapalissada, enquanto demonstra que ser ou não do Bangladesh é, afinal, indiferente. Contudo, reafirma que isto não é o Bangladesh. Explica em repetição o que é apenas uma lapalissada. A cada entrevista e em hipérbole mais partidos, jornalistas e opinion makers dizem que o partido de direita é racista, fascista, nazi! Caem uma vez mais no engodo. A hipérbole é o terceiro ato.
Epílogo. Os Portugueses assistem a mais uma peça de três atos. O partido de direita é falado ad nauseam por partidos, jornalistas e opinion makers que, por causa de uma (muitas) lapalissada(s) malcriada(s) lhe chamam, exagerando, racistas, fascistas, nazis.
Os portugueses olham para um lado e olham para o outro e concluem: 1) De facto Portugal não é o Bangladesh; 2) Nenhuma lapalissada grosseira, por si só, transforma um partido num bando de racistas, fascistas e muito menos nazis! De um lado uma verdade de La Palice (malcriada, bruta, execrável na forma como é posta, sim); do outro uma mentira (bem educada, polida mas ainda assim longe da verdade).
E assim se repete mais uma tragicomédia em três atos. Agora… em que é que o partido de direita estará a pensar para a próxima lapalissada?
É que a coisa rende, oh se rede, neste nosso querido Bangladeshal.
*Em baixo clip do "The Concert for Bangladesh" de George Harrison, que aconteceu no Madison Square Garden, Nova Iorque, a 1 de agosto de 1971. Era de coisas destas que deviam estar todos a falar!
Testemunho in Expresso de 24 de outubro de 2025: Francisco Pinto Balsemão não tinha muita paciência para posar em fotografias. Começava por dar um sorriso mas ao terceiro clique dizia: "Já chega, está bom!" Se a sessão tinha uma parafernália de luzes e refletores, como era de bom-tom em alguns fotógrafos para impressionar o patrão, este achava logo tudo aquilo um exagero. E tinha razão.
O melhor para poder ser fotografado era apanhá-lo descontraído no meio de um evento. O Prémio Pessoa era uma boa oportunidade, enquanto Francisco Pinto Balsemão conversava com os membros do júri ou noutras circunstâncias informais.
Esta fotografia foi tirada no jantar dos 80 anos de Mário Soares. Na minha objetiva ali estava o momento de Francisco Pinto Balsemão saborear o seu cigarro, perdido entre sombras e pensamentos.
É, para mim, uma das fotografias mais autênticas que fiz dele ao longo de 30 anos.
Não foi o único, mas foi certamente o jornalista mais importante do pós 25 de abirl. Não foi o único, mas foi o arquiteto daquele que é o mais importante jornal do país, o velho Expresso que deu lugar a um novo Expresso quando José António Saraiva rompeu com Balsemão e lançou o Sol. O mesmo jornal que chamou polvo a Sócrates e que teve uma providência cautelar para o impedir para ir para as bancas, num tempo não tão longíncuo assim de asfixia democrática.
Lia o José António Saraiva todas as semanas há centenas, talvez milhares, de semanas na crónica Política à Portuguesa (que depois no Sol tinha outro nome) na qual analisava, normalizava e atecipava o que se passa no país político e no país real.
Levei um soco no estomago ao me aperceber - já tão tarde como vejo agora que até os mais próximos - que já não vou ler mais o jornalista, arquiteto, politólogo, escritor Saraiva e fico triste por as pessoas boas irem tão cedo.
Moçambique é muito rico em tantas dimensões. Numa delas, a fotografia, é mesmo um caso sério de tradição que se enraiza nos antigos - Rangel, José Cabral, Moira Forjaz - e com frutos bem recentes como Mário Macilau que nos transporta através do seu olhar e sobretudo na forma, no lugar e no instante que escolhe para parar o tempo e imortalizar num clique o momento que se eterniva. Aqui uma reportagem no The Guardian.
A morte do jornalista, programador e curador, Rui Trindade, a 31 de Julho, apanhou de surpresa a comunidade criativa de Maputo, incluindo o próprio que encontrava-se empenhado para mais uma edição do festival Maputo Fast Forward e o lançamento de um novo projecto editorial que colocará Maputo no circuito mundial das artes e ideias.
Lá como cá. O BCE anunciou ontem uma subida das taxas de juro (o fim de uma era na zona euro) e com isso será sempre a descer até à ressessão final. E quem vai levar outra vez com a patufada, quem é?
De há um tempo para cá que vou folheando a imprensa brasileira. Existe ainda uma distância muito grande (demasiadamente grande) entre Portugal e Brasil e o que se passa nos media não é exeção. Partilho este texto com sabor a Bossa Nova, a Rio, a Tom Jobim, Vinicius, Clarice Lispector e, claro, Lygia (da canção Ligia). Uma crónica que cheira a Ipanema. O artigo está na edição do Globo (matutino do Rio de Janeiro) de há dois dias.
O biólogo e entomólogo norte-americano Edward O. Wilson, apontado como o pai da biodiversidade e com ligação a Moçambique, morreu no domingo, aos 92 anos, em Burlington, Estados Unidos, anunciou esta segunda-feira a fundação que tem o seu nome.
Edward O. Wilson, considerado o herdeiro do naturalista oitocentista Charles Darwin, esteve ligado a Moçambique, onde, no Parque Nacional da Gorongosa, liderou expedições científica e um laboratório.(Lusa)
"Archbishop Tutu, with his celebration of our Rainbow Nation and his powerfully healing guidance of the Truth and Reconciliation Commission, is an inspiration to us all in this most crucial task of reconciling our nation.
His joy in our diversity and his spirit of forgiveness are as much part of his immeasurable contribution to our nation as his passion for justice and his solidarity with the poor."
Namaacha, Agosto de 2001. Tirei esta fotografia há 20 anos. No mercado da Namaacha, vila que fica a 80 km de Maputo encostada à fronteira com a Suazilândia (eSwatini). É a minha primeira fotografia em África. Tirei com a máquina de rolo de uma amiga. Logo a seguir ao clique a Mãe (com aquela capulana) inrompeu pela cena a dentro e desenrolou o miúdo e eu desta imagem que o rolo resgatou.
“O Cão-Tinhoso tinha uns olhos azuis que não tinham brilho nenhum, mas eram enormes e estavam sempre cheios de lágrimas, que lhe escorriam pelo focinho. Metiam medo aqueles olhos, assim tão grandes, a olhar como uma pessoa a pedir qualquer coisa sem querer dizer.”
in NÓS MATÁMOS O CÃO TINHOSO de Luís Bernardo Honwana, escritor moçambicano (1953)
Uma das razões que me leva a continuar a consumir jornais e revistas em papel além do prazer de ter o objeto nas mãos é a possibilidade de ver fotografias de grande qualidade impressas. Como esta do estádio olímpico de Tóquio, Japão, na revista Luz, sumplemento do semanário Sol.
Capa do jornal Público de hoje. Relembra o massacre de Wiriyamu em Moçambique a 16 de dezembro de 1972 perpetrado por soldados portugueses e que tirou a vida a cerca de 300 moçambicanos.
Aconselho ler a análise (mais um bom ensaio, diga-se) de Lourenço Pereira Coutinho no Expresso desta semana, desta vez sobre Viktor Orbán e o seu take-over iliberal a uma democracia (?) onde o seu Fidesz (partido com o perfume a bolor de um André Ventura), que tendo 49% dos votos detém 2/3 do parlamento Húngaro resultando de uma revisão constitucional por si promovida. Sei que está do lado certo quanto a valores como a defesa da vida, fruto do seu calvinismo. Mas isso não basta para validar o mofo que propõe - aka posição anti-imigração, limitação à liberdade de imprensa e de expressão e nacionalismo protecionista húngaro (pulvilhado com fundos europeus), - que impõe à maioria (51%) que nele não votou. Democracia é bem mais do que a base para qualquer sociedade que se pretenda civilizada.
Foi assim que Passos Coelho começou (a pedir uma revisão constitucional), é assim que Rui Rio vai acabar. É uma ilusão pensarmos que temos todo o tempo do mundo. Não temos. Temos pressa. Gostava que fosse o PSD de Passos Coelho, reformista, independente, social democrata, a liderar uma discussão para reformar Portugal. À data Sócrates recusou, agora Costa negará. Restam-nos os eleitores que dêem maioria ao arco democrático (PSD e CDS) e o PS moderado que possa vir depois da geringonça para completar as reformas começadas após o último resgate. Seria uma boa forma de festejar o 25 de abril e reforçar os próximos 50 anos de Democracia em Portugal.
Conversa amiga insistiu que o rabisco que me fez um artista não deixava de ser uma obra, original, irrepetível. Insisti no furtuito e no truque de saber que em vez de autógrafo fazia sempre um esquiço. Procurei o papelinho e encontrei um Malangatana, de 2003, feito entre dois dedos de conversa enquanto desenhava no meu bloco, algures no velhinho aeroporto de Maputo. Aquele edifício antigo, cheio de madeira, xonguila, que tinha um piano no andar de cima e que 2 anos mais tarde vim a descobrir que o tocava um senhor nos voos à noite. Nibonguile Malangatana.
No Maputo Fast Forward: 'A Brownswood Recordings acaba de lançar Indaba Is, uma complição que junta trabalhos originais de oito bandas de jazz emblemáticas da cena musical de Joanesburgo. A curadoria do projecto é da responsabilidade da pianista Thandi Ntuli e do cantor Siyabonga Mthembu que responderam ao desafio que lhes foi colocado pelo DJ e produtor britânico Gilles Peterson'.
Leio a entrevista do Público a Ros Gray professora de Belas Artes na Universidade de Londre, que escreveu o livro "Cinemas of the Mozambican Revolution — Anti-Colonialism, Independence and Internationalism in Filmmaking 1968-1991 (James Currey/Boydell & Brewer) e enbarco numa viagem de mais um plano em que Moçambique é rico, o Cinema. Uma viagem pelo cinema e que apesr de nãonfalar do incontornável Licínio de Azevedo até tem filmes em que ele participou com n'No Tempo dos Leopardos'.
Deixo um excerto, rico em informação e que carateriza o livro como "uma absorvente história sociopolítico-artística do cinema moçambicano antes, durante e depois da independência. Que passa por filmes produzidos ainda no período da luta anticolonial por realizadores estrangeiros como o jugoslavo Dragutin Popovic (Venceremos, Nachingwea, Do Rovuma ao Maputo), a inglesa Margaret Dickinson (Behind the Lines) e o americano Robert van Lierop (A Luta Continua), ou em colaboração com o Instituto Cubano del Arte e Industria Cinematográ cos (Santiago Álvarez dirigiu Maputo, Meridiano Novo), mas também por obras posteriores a 1975 como Mueda, Memória e Massacre, de Ruy Guerra, ou O Tempo dos Leopardos, de Zdravko Velimirovic".
Imagem de rosto do 'Mar me quer' cedida por Bernardo SC
Chapas
Inhaca - Namaacha, Moçambique 2001
Namaacha, 2001 (AVP) e (Ingrid)
Ilha de Moçambique (AVP) e Pemba, 2002 Moholoholo, África do Sul, 2005 (AVP)
Murchison Falls, Uganda, 2006
Murchison Falls, Uganda, 2006
Entebbe, Uganda, 2006
Eu, há muitos anos
Pemba 2002 Momemo 2003 (Moçambique) e Gambozinos 2005 (Ponte de Lima)