Raios parta os gafanhotos. Ontem, de manhã quando ia de casa para o comboio, levei com a mais irritante "chuva molha parvos" (os parvos que ficam debaixo dela), que me batia na cara e contra a qual nada podia fazer. Pareciam mesmo gafanhotos. Não dos verdadeiros, como a imgem sugere, mas dos que também são conhecidos pela bela palavra do vernáculo luso "perdigotos". De noite, depois de sair do trabalho, pimba. Lá estava a praga dos gafanhotos... Raios parta.
Entretanto, ante-ontem fui beber umas cervejas com um amigo que está a viver no Uganda. Ora, num dos vários episódios que me contou, falou-me das pragas de gafanhotos, desta vez dos verdadeiros, que volta e meia assolam aquelas paragens. Os habitantes locais juntam-se então em grupos à noite, debaixo de um lampião, e preparam a churrascada. Fritam os gafanhotos e é enfardar até cair para o lado. Vai uma gafanhotada à bolhão pato?
O Fiel Jardineiro: acho que posso arriscar que, para mim, é o filme do ano. Não por ter por pano de fundo África. Acho que não sou tão tendencioso. Mas julgo que aliado à excelente realização de Fernando Meirelles e interpretação de Rachel Weisz e Ralph Fiennes está o magnífico argumento, adaptado do romance com o mesmo nome de John Le Carré.
Não querendo contar o filme, “O Fiel Jardineiro” conta a história de um diplomata inglês que, de repente, se vê envolvido numa conspiração internacional que envolve o estranho mundo dos laboratórios farmacêuticos.
Mas o que mais me despertou foi o facto de o filme retratar África de forma verdadeira. Sem grande espaços, paisagens de planícies com acácias e animais selvagens. Fala da África que eu fui conhecendo ao longo dos últimos anos. Dos bairros de barracas com telhados de zinco que se juntam à volta das grandes cidades, das vidas miseráveis dos que lá vivem e, mais cortante, da indiferença que nós europeus temos em relação à verdadeira vida que corre nas veias daquele continente... os africanos.
Dá que pensar. Será que fui feito para perder a minha vida no trânsito, a correr de um lado para o outro como uma barata tonta, ávido de aproveitar aqueles dois diazitos do fim-de-semana e nos jantares comparar o meu carro e o meu ordenado com amigos e conhecidos? Continuar indiferente às belezas e misérias deste mundo? A resposta é: Não!
Khanimambo! Khanimambo! Khanimambo, Xikwembo! Que é como quem diz, Obrigado meu Deus!!!! Já consigo pôr música de jeito* no “Mar me quer”. Graças à ajuda preciosa maningue nice da Mariana TG e do Francisco S. A eles dedico este clássico da música ligeira de João Maria Tudela.
Maestro, dá-lhe com o Khanimambo...
* esta em Moçambique é perigosa uma vez que “Jeito” é o nome da marca mais conhecida de preservativos...
Pôr-do-sol em Mecufi, Pemba, Norte de Moçambique, 2005 Foto: Vera e Edmundo
A noite cai sobre África. Num ápice. Demora apenas alguns minutos. Dura pouco o crepúsculo africano e marca o ritmo do continente dos contrastes. Quem se pode esquecer do pôr-do-sol de África?
Nota: Esta chapa foi-me enviada pela Vera e pelo Edmundo, dois amigos de Mafra que tive a sorte de encontrar este Verão, no Maputo. A fotografia foi tirada no norte, em Mecufi, junto a Pemba. Tenho saudades de Mecufi…
Este excerto é retirado de um livro que estou agora a ler: "O cântico da galinha do mato», do autor moçambicano Sérgio Veiga. Onde é que eu já vi isto...
«Mpfunfo dispensou obrigatoriamente o padre Tadeu das possíveis funções e assumiu agora o papel de tradutor. Consoante as pausas de Francesco, ele aproveitava para fazer a tradução em língua materna para a grande maioria que ali estava e tinha dificuldades em perceber o português italianado do padre Francesco. Como bom italiano, Francesco não fugia à regra, gesticulava intensamente com as mãos acompanhando cada frase e, como bom moçambicano, Mpfunfo não só o traduzia com exactidão, como apoiava também os seus gestos e os reproduzia com mestria, em grande estilo».
O mar batia lá fora. O murmúrio das ondas trazia-lhe a saudade de dias passados nas areias finas e doiradas dos ano d'oiro da sua existência. Questionava-se se o mar lhe susurrava baixinho que ele lhe pertencia. Como um oceano cheio de nada, de um tudo cheio de água.
As gaivotas ginchavam e anunciavam a tempestade que em breve chegaria, com sua água. A mesma água que enchia o mar salgado da sua existência.
Deu mais um bafo no cigarro, quase beata. Bebeu um trago de Água... tirou, com um gesto ligeiro mas intenso um macaco do nariz... e comeu.
Hahahhahahah, vocês pensavam que isto ia ser o quê, hã? Mais um blog peneirento a puxar ao 'je ne sais quois', déprê e a cheirar a mofo? Hahahahahah. Bom, este post serve pois para que o blog, depois da apresentação, entrasse na normalidade e, quem sabe, para meter Água. Para quebrar gêlo, tão a topar? Água! heheheheh.
Bem, pus também uma nova fotografia tirada p'raí umas duas horas antes daquela que está no post anterior, ou seja, na boa da Ilha de Moçambique. Mais do mesmo, mas tinha que arranjar maneira de publicar esta. Até que aqui o Pinto se safa nas fotos. Hein?
Mar me quer. A expressão não é minha. Quem conhece o seu autor, facilmente reconhece o estilo: Mia Couto. Mas é isso que sinto, sempre senti. Que preciso de mar. De ir por aí...
Esta fotografia, tirei-a na Ilha de Moçambique, que deu depois nome à colónia que se fez país há 30 anos atrás. Foi talvez o sítio onde mais gostei de estar. Tinha quase tudo: África, Índico e a marca do nosso Portugal. Respira-se, ao mesmo tempo, estas três dimensões. Só não tinha aquele cheiro a maresia que só o mar português tem...
«Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
Deus quer, o homem sonha, a obra nasce. ...Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!»
«Fermina Daza estava na cozinha a provar a sopa do jantar quando ouviu o grito horrorizado de Digna Pardo e o alvoroço da criadagem e logo o da vizinhança. Atirou a colher para o lado e tentou correr como podia com o invencível peso da sua idade, aos gritos como uma louca sem saber ainda o que é que se passava sob os ramos da mangueira, e o coração partiu-se-lhe ao ver o seu homem estendido ao comprido na lama, já morto em vida, mas resistindo ainda um último minuto ao golpe final da morte para dar-lhe tempo para chegar. Chegou a reconhecê-la no meio da confusão, através das lágrimas da dor única de morrer sem ela, olhou-a pela última vez para todo o sempre, com os olhos mais luminosos, mais tristes e mais agradecidos que ela jamais lhe vira em meio século de vida em comum, conseguindo dizer-lhe com um último suspiro:
- Só Deus sabe quanto te amei».
in O amor nos tempos de cólera, de Gabriel García Marquez
Imagem de rosto do 'Mar me quer' cedida por Bernardo SC
Chapas
Inhaca - Namaacha, Moçambique 2001
Namaacha, 2001 (AVP) e (Ingrid)
Ilha de Moçambique (AVP) e Pemba, 2002 Moholoholo, África do Sul, 2005 (AVP)
Murchison Falls, Uganda, 2006
Murchison Falls, Uganda, 2006
Entebbe, Uganda, 2006
Eu, há muitos anos
Pemba 2002 Momemo 2003 (Moçambique) e Gambozinos 2005 (Ponte de Lima)